quinta-feira, 9 de abril de 2020

Impacto da Covid-19 no mercado de TI é projetado em até US$ 15 bilhões na América Latina

Impacto da Covid-19 no mercado de TI é projetado em até US$ 15 bilhões na América Latina
Impacto da Covid-19 no mercado de TI é projetado em até US$ 15 bilhões na América Latina
Os impactos da pandemia de Covid-19 no mercado de tecnologia da informação e comunicação (TIC) na América Latina serão sentidos, pelo menos, até o primeiro semestre de 2021. Em webinar realizado na terça-feira 7/4, Luciano Ramos, gerente de pesquisa e consultoria para o mercado corporativo na IDC Brasil, explicou que, ao analisar os gastos com tecnologia da informação “vão sumir” de dez a 20 pontos porcentuais no crescimento em 2020, representando até US$ 15 bilhões de redução. 

“Vemos que são impactos distintos, mas, mesmo no cenário otimista, vamos ter ainda uma pequena queda dos investimentos de TI”, disse. “O desafio é entender a duração do impacto. A curva depende do quão preparados estejamos para o novo normal”, avalia. A expectativa é que 2021 deve voltar a mostrar números positivos no mercado de TI para a América Latina. “Para o ano que vem, prevíamos crescimento na casa de 5% e hoje está um pouco menos. O impacto maior será em 2020, mas há impacto também no primeiro trimestre de 2021, com retomada de investimentos dos projetos do segundo trimestre em diante.”

Mas nem tudo está perdido. Há oportunidade e exemplos a serem aprendidos, disse Ramos, apontando o caso da China que aproveitou os potenciais de TIC, por exemplo, com o aparelhamento tecnológico do governo, usando plataformas digitais e de big data, aplicações de 5G por indústria, criação de parques e cidades inteligentes, fomento de comércio e serviços sem pessoas, saúde e educação online, melhoramento da cadeia de suprimentos, uso de robôs para manufatura e serviço e escritório remoto e atividades online.  

Contudo, Luciano Ramos alertou que o impacto não será distribuído igualmente em todas as indústrias. “A nossa percepção é que o mercado financeiro deve ser o primeiro a se recuperar, seguido do varejo e do atacado para atenderem à demanda reprimida de consumo. Telecomunicações durante a pandemia vivem um momento importante. A maior dificuldade de recuperação está no setor de manufatura, que vai precisar ser repensado.”  

Para ele, estamos passando por um momento de transformação da maneira de como os negócios, incluindo trabalho remoto, são feitos. Apesar de todos os impactos negativos de Covid-19 para o mundo, oportunidades surgirão com a crise, justamente, por que ela está mudando os processos diários e está levando a importantes mudanças em áreas como local de trabalho (home office) e RH (cultura de trabalho, treinamento, colaboradores se adaptando às mudanças constantes); interação cultural e social (streaming e serviços online); a maneira como os negócios são conduzidos (omnichannel); a distribuição resiliente e cadeias de suprimentos. 

Com relação a tecnologias, no curto prazo, dispositivos de consumo, servidores, armazenamento e serviços de TI on-premises sentirão efeitos negativos. No curto e médio prazos, haverá, segundo a IDC, impacto positivo em software e ferramentas de comunicação unificada; software de virtualização e colaboração; serviços de nuvem; redes; big data & analytics; serviços de TI off-site; e segurança. No médio prazo, IoT,  AR/VR, inteligência artificial, smart office & smart home e segurança sentirão efeitos positivos. 

A IDC também reviu algumas projeções. A consultoria previa aumento de 12,8% no mercado de smartphone na América Latina e,agora, aponta uma retração de 3,2%. No lado corporativo, disse Ramos, software e serviços de TI, que tinham previsão positiva, terão um impacto menor, principalmente, devido ao aumento de software as a service para o consumo das soluções a partir de qualquer lugar; já servidores e armazenamento, que traziam tendência de queda, terão a curva (para baixo) acentuada. O setor de telecomunicações, por sua vez, pode perceber aspectos positivos no meio da crise, com a transição de voz para dados mais forte.

Impactos no PIB e na sociedade 

A IDC avalia que, ainda que as reações de alguns líderes na região tenham sido diferentes, em geral, os governos latino-americanos apresentaram uma resposta rápida no enfrentamento à pandemia, com boa parte dos países iniciando o isolamento social e fechamento de fronteiras e das escolas, após poucas semanas depois do primeiro caso relatado. “A grande pergunta é se a América Latina está pronta para a onda que está por vir. O número de casos vem acelerando no Brasil e todas as avaliações apontam que estamos na ascensão da curva”, ressaltou Ramos. 

Com relação ao Produto Interno Bruto (PIB) dos países, a previsão é de recessão imediata e, com sorte, curta em todos os países da região. “Haverá recessão imediata em todos os setores da região; em alguns casos, falamos de queda em 5,5 % do PIB e este impacto se estende para 2021. Ainda que acreditemos que a recessão seja de curto prazo, uma vez que passemos o pico e consigamos afrouxar o isolamento social, devemos ver recuperação relativamente rápida, mas o impacto passa de 2020 e vai para 2021”, aponta. 

O cenário mais positivo aponta para retração de 1,8% no PIB na AL, com a demanda voltando ao normal no terceiro trimestre e as economias que dependem de exportações não sofrendo um grande impacto. Já no cenário pessimista, o crescimento esperado do PIB será negativo, além de -4,0%. O aumento temporário dos níveis de pobreza em função da parada das economias levará a um impacto de longo prazo na pobreza; a manufatura cairá cerca de 60% globalmente com recuperação até 2021 e localmente sendo com severamente impactada pela dinâmica da cadeia de suprimentos global; e o preço dos componentes de hardware de TI na região aumentará. As estratégias econômicas dos governos regionais não serão suficientes e as moedas estrangeiras como o dólar americano se tornarão ainda mais fortes, enfraquecendo as moedas locais.  

Para Ramos, é imprescindível entender em que estágio a sociedade se encontra hoje, com mudanças dos atos e isto inclui não apenas os de convívio social, mas também como se desenvolvem negócio em meio à pandemia. Em sua avaliação, de quatro estágios — choque, organização, realinhamento e transição para o novo normal — o Brasil está entre o segundo e terceiro.

“Passamos pelo estado de choque, onde população e governo perceberam que crise com Covid-19 era real, e isto levou de uma a duas semanas quando passamos para o estágio seguinte que é de organização. Vimos muitas empresas tomando ações rápidas e ágeis, nem sempre bem pensadas e organizadas, para as pessoas pudessem desempenhar suas atividades de negócio dentro do isolamento. No entanto, se olhar a população economicamente ativa, apenas 20% pode desempenhar atividade de casa. E é por isto que estamos entrando no realinhamento e corrigindo falhas, pensando em como ampliar para que os outros trabalhadores consigam desempenhar as atividades dentro deste novo contexto, porque é isto que vai nos levar ao novo normal”, completou.  




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