Autor de ciberataque na Alemanha agiu por ‘irritação’ |
O jovem suspeito de cometer um ciberataque em massa na Alemanha agiu em reação a declarações de políticos e personalidades que o irritaram – declararam as autoridades, nesta terça-feira (8), descartando por enquanto um vínculo com a extrema direita.
A Polícia alemã anunciou hoje a detenção desse jovem de 20 anos, após o ciberataque em massa contra centenas de políticos e personalidades que mobilizou o país.
O rapaz foi preso no domingo, em sua casa na região de Frankfurt, após uma operação de busca e apreensão em seu apartamento, acrescentou a Polícia, em um comunicado.
“Em relação à sua motivação disse ter-se incomodado com declarações públicas” de suas vítimas, “mas não deu mais detalhes”, relatou o porta-voz da Procuradoria de Frankfurt, Georg Ungefuk, em entrevista coletiva.
“Não há indícios sobre uma motivação política”, acrescentou.
Segundo Ungefuk, o “hacker” adquiriu seus conhecimentos técnicos sozinho, passando muito tempo no computador.
Segundo o site da revista “Der Spiegel”, que cita um dos investigadores desse caso, ele ainda é aluno do Ensino Médio, mora com os pais e não teria “se dado conta de todas as consequências de seu ato”.
– Mais de mil vítimas –
Na sexta-feira, as autoridades alemãs divulgaram, pela conta no twitter @_0rbit, depois bloqueada, dados pessoais, ou profissionais, de cerca de mil políticos. Entre eles estão a chanceler Angela Merkel e vários de seus ministros.
Jornalistas e celebridades do mundo do entretenimento também foram alvo do suposto “hacker”. Em dezembro, ele divulgou seus dados, dia após dia, como em uma contagem regressiva.
Os dados estavam em contas nas redes sociais, ou armazenados na “nuvem”.
Nenhuma informação sigilosa chegou a ser vazada. Foram divulgados, sobretudo, contatos, endereços, conversas na Internet, documentos internos dos partidos, além de carteiras de identidade e cartas. Nem todos os documentos são atuais.
Em alguns casos, fotos, endereços privados, ou números de celulares, também foram divulgados, como o da presidente do Partido Socialdemocrata, Andrea Nahles, que se declarou “muito afetada e ferida”.
Foi seu antecessor, o ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz, que disparou o alerta das autoridades nesse caso. Na semana passada, ele entrou em contato com a polícia, depois de receber ligações de vários desconhecidos em seu celular.
Em relação a Angela Merkel, foram divulgados e-mails, já semipúblicos, e links para cartas que lhe foram enviadas.
– ‘Ataque contra a democracia’ –
O caso complica o governo, acusado de descaso na luta contra a cibercriminalidade, principalmente porque as autoridades sabiam, desde dezembro, da ocorrência de ciberpirataria. E, mesmo assim, não avisaram os políticos e personalidades envolvidas.
Criticado por seu relativo silêncio desde a revelação do ciberataque, o bastante impopular ministro do Interior, Horst Seehofer, falará esta tarde. Ele é membro do partido bávaro CSU, aliado aos conservadores de Merkel.
A ministra da Justiça, a socialdemocrata Katarina Barley, classificou o roubo de dados como um “ataque a nossa democracia e suas instituições”.
Em um primeiro momento, alguns especialistas suspeitaram de setores da extrema direita, argumentando que a Alternativa para a Alemanha (AfD) é o único dos partidos importantes da Alemanha a não ter nenhum de seus membros afetados.
Nos últimos anos, o Bundestag e os partidos políticos foram alvo de ciberataques provenientes, segundo Berlim, dos serviços secretos estrangeiros. A suspeita é de que “hackers” russos tenham organizado essas operações.
A Alemanha se preocupa, com frequência, com possíveis investidas da Rússia, em particular, para tentar influenciar o clima político nacional por meio de ciberataques, ou de ações para disseminar a desinformação.