Em 5 anos, a Computação Cognitiva mudará o mundo para melhor. |
Em 2011, Ginni Rometty, presidente e CEO da IBM, apostou o futuro da companhia em um computador cognitivo que tinha em seu currículo o feito de ter vencido seres humanos em um programa de perguntas e respostas na televisão americana (o Jeopoardy). Cinco anos depois, Rometty subiu ao palco da conferência World of Watson na tarde da quarta-feira (26/10) e, para um auditório lotado com mais de 18 mil pessoas, junto com parceiros como a fabricante de automóveis GM, a gigante farmacêutica Teva, o Secretário de Educação do Governo norte-americano, e o renomado especialista em genoma humano, professor Satoru Miyano, mostrou que sua aposta gerou frutos e poderá de fato mudar o mundo.
"Agradeço a todos vocês, clientes e parceiros, em nome da IBM, a confiança que depositaram desde o início na nossa estratégia com Watson", disse Rometty. A platéia correspondeu com entusiasmo, especialmente levando em conta as cifras dessa aposta: por volta de 2025, segundo a CEO da IBM, o mercado de computação cognitiva e inteligência artificial deverá representar mais de 2 trilhões de dólares.
Os próximos cinco
Para Rometty, nos próximos cinco anos toda decisão importante, profissional ou pessoal, poderá ser feita com a ajuda do IBM Watson. O computador cognitivo da IBM é a plataforma de todo um ecossistema que, utilizando tecnologias de inteligência artificial e aprendizado de máquina, está funcionando em diferentes verticais econômicas, como saúde, finanças, entretenimento e varejo, conectando consumidores e empresas através da nuvem e fornecendo soluções por meio do entendimento de big data e analytics.
Rometty diz que a sigla A.I. do Watson não se refere a inteligência artificial (Artificial Intelligence) e sim a Inteligência Aumentada (Augmented Intelligence). "Nossa meta é ampliar a inteligência humana. Miramos em um mundo homem e máquina. Nosso foco é estender e ampliar o expertise humano em qualquer área. Professores, médicos, advogados, não interessa sua área de atuação, nós vamos ampliar seu conhecimento".
O mercado de IA hoje ainda é jovem e em formação e a IBM fincou sua bandeira nele transformando seu Watson em uma das grandes forças e atraindo clientes e parceiros como General Motors, GlaxoSmithKline, Staples, Teva Pharmaceuticals, a American Cancer Society, a Cleveland Clinic e o Bradesco, entre outros.
Até o final de 2016, a tecnologia Watson, segundo Rometty, terá tocado centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo que, em muitos casos, nem vão notar sua presença, apenas os benefícios.
Watson e os motoristas
Um dos exemplos é a parceria com a GM, anunciada também na quarta-feira. A chaiman e CEO da GM, Mary Barra, subiu ao palcom junto com Rometty para falar da parceria, que leva os recursos cognitivos do Watson para dentro da plataforma móvel OnStar, que equipa os carros da montadora.
A OnStar, que já existe há 20 anos, oferece aos motoristas comunicação intraveicular, segurança, recursos de navegação, diagnóstico remoto de problemas e chamadas externas hands-free. Com o Watson trabalhando nos bastidores do OnStar Go, os motoristas passarão a ter recursos de computação cognitiva como, por exemplo, ser alertado sobre o risco de ficar sem combustível e receber o melhor trajeto para evitar tráfego até o posto mais próximo.
Ou pedir um café em linguagem natural, pagar de dentro do carro, e apenas passar na sua cafeteria predileta para retirar o copo da bebida quentinha (tradição para os norte-americanos) a caminho do trabalho. Ou ser lembrado pelo carro, ao voltar para casa, que precisa parar na farmácia para comprar remédios.
A solução OnStar Go baseada em Watson começará a circular nos carros no início de 2017, e até o final do ano "milhões de carros estarão com ela", segundo Barra. "Acreditamos que a indústria automobilística verá em cinco anos muito mais mudanças do que viu nos últimos 50 anos. Vemos uma tremenda oportunidade para transformar a mobilidade pessoal. Pense como será levar o OnStar a outro patamar, conhecendo você e sua vida e o seu dia a dia e oferecendo facilidades e segurança. Podemos pegar o tempo gasto no trânsito e transformá-lo em qualidade de vida".
Na medicina, a diferença entre vida e morte
Revolucionar a saúde é uma das metas mais ambiciosas da IBM com Watson. E um dos convidados de Ginni Rometty ao palco, o professor Satoru Miyano, do Centro de Genoma Humano do Instituto de Ciências Médicas da Universidade de Tóquio, mostrou como o uso da plataforma pode fazer a diferença entre a vida e a morte de um paciente.
Miyano explicou que pesquisadores e médicos enfrentam diariamente muita dificuldade para conseguir acompanhar a montanha de dados sobre suas especialidades. Só no ano passado, por exemplo, foram publicados mais de 200 mil estudos sobre câncer. Ao mesmo tempo, os oncologistas lidam com um cenário com mais de 4 milhões de mutações patológicas de genes ligadas ao câncer já identificadas.
"Ninguém consegue ler tudo isso", disse Miyano. "Nos sentimos como uma rã no fundo do poço. Entender o câncer está acima da capacidade humana mas o Watson pode ler, entender e aprender. Por que não usá-lo?" E, de fato, os pesquisadores estão usando Watson para navegar pelo mundo de dados e, cruzando informações com fichas de pacientes e dados de específicos de cada genoma, achar a melhor forma de tratamento.
O exemplo mais contundente veio de uma paciente de 66 anos, com leucemia. Segundo Miyano ela recebia tratamento padronizado contra a doença mas piorava, Os médicos não entendiam por que ela ficava mais doente. Usando o Watson, em 10 minutos conseguiram analisar os dados da paciente contra os dados da base gigante de conhecimento.
Os resultados apresentados por Watson forma investigados e os médicos descobriram que Watson tinha apontado um problema em um gene que levava a um tipo diference de leucemia que exigiria outro tratamento. Mudaram a terapia e a paciente está recuperada completamente.
Watson na frente
Os exemplos, as parcerias e os projetos comerciais da IBM com o Watson mostram que a empresa está aproveitando o momento de "tela limpa" para se reinventar novamente e tentar dominar um mercado emergente gigantesco.
Se vai conseguir, diz o analista da indústria Jeff Kagan, "depende de como ela conseguir definir o markeplace". "Liderar o mercado hoje é fácil para o Watson, já que a companhia começou na frente, mas para se manter na liderança em dez anos a IBM precisará desenhar muito bem o mercado e controlar as expectativas".
Para Kagan, as chances são boas: "A IBM está em uma posição hoje de criar a base sobre a qual toda a indústria vai se erguer. Alguém tem de criar essa base".
Depois da conferência de ontem, ficou claro que Ginni Rometty quer essa posição. E tem apoio para isso.