Europa vai precisar de 650 mil profissionais de TI em 2017. |
António Mira, diretor das divisões da indústria da Siemens Portugal, afirma em entrevista, que, “em 2015, a Europa fechou o ano com uma lacuna de aproximadamente 340 mil profissionais de TI”, para 2017 “esta necessidade aumentará para praticamente 650 mil” e acrescenta que a Comissão Europeia “prevê que, até 2020, sejam mais de 900 mil as ofertas de emprego na área das TI, em toda a Europa”. Apenas Portugal, as estimativas apontam para 15 mil o número de profissionais necessários nesta área. Na entrevista, a que respondeu por escrito, o responsável da Siemens Portugal refere ainda que as engenharias – áreas da indústria, energia e infraestruturas – são uma garantia de empregabilidade e cita o presidente da Ordem dos Engenheiros quando, há cerca de um ano, referia que “há pouco mais de 3% de desemprego no setor”, quando o desemprego jovem anda pelos 30%.
Que razões levam a uma redução do número de alunos portugueses que optam pelas vertentes científicas e tecnológicas no ensino secundário?
Parece-nos que os jovens estão ainda pouco despertos para as áreas da engenharia, ou porque desconhecem as suas potencialidades em termos de carreira e os seus incentivos, nomeadamente a taxa de empregabilidade, ou porque as consideram estressantes. Por isso temos colaborado com várias universidades para eles venham a conhecer as áreas em que atuamos – Indústria, Energia e Infraestruturas - e contribuir para atrair para estes setores os melhores talentos. Mas ainda há um percurso a percorrer. Há cerca de um ano, por exemplo, o presidente da Ordem dos Engenheiros referia que há pouco mais de 3% de desemprego no setor, quando o desemprego jovem ultrapassa os 30%. Outro exemplo que não nos cansamos de dar é o da ATEC, da qual somos uma das empresas fundadoras. Esta Academia de formação tem taxas de empregabilidade de 80%. Indicadores destes levam-nos a crer que os jovens deviam olhar mais para as vertentes científicas e tecnológicas quando estão a desenhar o seu percurso acadêmico e profissional. Para além disso, nem só de projetos enfadonhos se faz a engenharia. Foram engenheiros com recurso a software da Siemens que desenharam o carro de fórmula 1 da Red Bull e o Mars Rover que aterrou com sucesso em Marte, a promoção de projetos como estes também pode encorajar os jovens a olhar para a engenharia com outros olhos.
Há falta de promoção das engenharias por parte do Estado?
A promoção da engenharia tem que começar desde cedo, na formação de base e isso está a acontecer através de várias iniciativas que unem as instituições de educação e as empresas privadas. Agora para termos uma indústria 4.0 competitiva, também temos que promover uma educação 4.0 que esteja adaptada a esta nova realidade e à forma como esta transformação está a acontecer rapidamente. O Estado tem dado demonstrações claras que quer apoiar e incentivar esta industria digital e, exemplo disso, é a criação de um Comité Estratégico para Indústria 4.0. do qual a Siemens também faz parte. Através desta iniciativa, o Governo quer posicionar o País na “linha da frente” da quarta revolução industrial e quer que as empresas ajudem a definir as prioridades em matéria de digitalização da economia.
Alguns países divulgam rankings de técnicos superiores necessários num horizonte temporal definido. Portugal também o devia fazer? Divulgando, por exemplo, o número de engenheiros informáticos, ou de outra especialidade, necessários durante a próxima década?
Penso que esses números são conhecidos. Em 2015, a Europa fechou o ano com uma lacuna de aproximadamente 340.000 profissionais de TI, segundo os números que foram tornados públicos. Para o ano que vem, em 2017, esta necessidade aumentará para praticamente 650.000. E a Comissão Europeia prevê que até 2020 sejam mais de 900 mil as ofertas de emprego na área das TI, em toda a Europa, e em Portugal o número de profissionais necessários poderá chegar aos 15 mil, segundo se estima. Ao analisar estes indicadores torna-se claro que temos que acelerar o passo, para reduzir esta lacuna e potenciar a indústria nacional.
A digitalização vai afetar todas as áreas de atividade, da indústria à agricultura, passando pelos serviços. Não acha que falta mais informação sobre esta “ameaça” que também pode ser interpretada como uma “oportunidade”?
Na visão da Siemens, a digitalização dos diferentes sectores de atividade traz enormes oportunidades, porque estes podem ser mais produtivos e eficientes e, consequentemente, mais competitivos. Até as diferentes “ameaças” que têm sido identificadas podem ser desmitificadas. Vejamos a temática dos recursos humanos na Indústria, por exemplo. A nossa mais moderna fábrica de componentes eletrônicos em Amberg, na Alemanha, emprega 1200 colaboradores - um número que se mantém sem grandes alterações desde há 25 anos. Contudo, a produção da fábrica aumentou oito vezes e já tivemos de construir novas fábricas. Portanto, criaram-se novos postos de trabalho - incluindo na área da Investigação e Desenvolvimento, mas também em sectores cujas atividades são mais simples. Ao aumentar o nível de automação deslocalizam-se os recursos humanos para novas áreas – continuam a ser muito necessários – o que muda são as qualificações e características pretendidas. A qualificação dos recursos humanos, nesta área, em Portugal, está a dar importantes passos. As instituições de ensino estão a investir, não só por ser uma tendência de mercado, mas porque constataram que as empresas procuram recursos com este tipo de competências. Existem vários exemplos que podemos mencionar: o Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação, da Universidade Nova de Lisboa, que está a leccionar uma pós-graduação em Digital Enterprise Management, ou a ATEC, que mencionei anteriormente, que acabou de lançar um curso na área da cibersegurança.
Fonte: Económico.