Startup cria game para fisioterapia de crianças com paralisia. |
Movimentos simples como passar os dedos pela tela de um tablet podem ser grandes desafios para quem tem limitações motoras. Para melhorar o acesso de crianças com deficiência à fisioterapia, Luciano Araújo, professor do curso de sistemas de informação da USP, Carlos Monteiro, professor de ciências da reabilitação da USP, Talita Dias, fisioterapeuta, e Lucas Magon, estudante de graduação em ciências da computação, criaram o Projeto Bridge.
A intenção era criar uma série de games que tornam a fisioterapia mais acessível e eficiente. Os jogos são voltados a crianças com paralisia cerebral, distrofia muscular, síndrome de Down e autismo. “Trabalhar com crianças com algum tipo de deficiência requer bastante cuidado e elas precisam fazer os exercícios todos os dias. Nas capitais, o acesso ao tratamento é pequeno, e no interior do Brasil é quase mínimo. Com isso, a criança acaba tendo poucas chances de se desenvolver e ficar independente”, diz Talita.
A ideia do projeto surgiu em 2013, quando Monteiro começou a pesquisar como a tecnologia poderia tornar a fisioterapia mais lúdica e acessível. Na época, Araújo entrou no projeto e eles criaram um grupo de pesquisa sobre o tema. O principal objetivo era desenvolver jogos que se adaptassem às limitações das crianças e permitissem a elas se desenvolver enquanto brincam. Nesse espaço, muitos alunos de graduação contribuíam com o projeto, mas dois se dedicaram exclusivamente ao trabalho: Talita Dias, que fazia mestrado em fisioterapia, e Lucas Magon, estudante de graduação em ciências da computação.
Em 2014, os games começaram a ser testados e a equipe fez parcerias com várias instituições, como a Associação Brasileira de Distrofia Muscular, o Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e a Associação Brasileira de Esclerose Lateral. “Testamos os jogos em mil crianças, sendo que metade apresentava alguma deficiência. Com o feedback, fizemos os ajustes necessários para que os games divertissem os dois grupos”, afirma Araújo.
Quando a criança começa a jogar um game do Projeto Bridge, é preciso que ela primeiro complete alguns exercícios que irão indicar as suas limitações. “Em um dos jogos, o game começa com uma sujeira na tela, do smartphone ou da TV, e a criança precisa fazer movimentos para limpá-la. Assim, o jogo reconhece o alcance da criança e tudo acontece apenas naquele espaço”, explica Magon. As histórias são lúdicas e educativas, como em um jogo no qual a criança deve movimentar o braço, a mão ou até mesmo os dedos para matar mosquitos da dengue que se espalham pela tela.
Sensores de movimento, como o Kinect, da Microsoft, são tecnologias que permitem esse tipo de interação. “Nós também utilizamos as telas touchscreen dos smartphones e tablets e estamos trabalhando com as webcams”, afirma Araújo. No total, o Projeto Bridge já tem doze jogos desenvolvidos para Windows, Mac, Xbox 360 e One, Windows 10, iOS, Android.
Agora, os quatro trabalham para formalizar o projeto e criar uma startup. "Estudamos bastante como funciona o empreendedorismo e foi assim que conhecemos a competição Imagine Cup, da Microsoft”, diz Talita. A equipe se inscreveu no concurso e foi vencedora na categoria Cidadania.
A startup deve estar totalmente formatada em outubro deste ano e vai funcionar como uma plataforma de assinatura de jogos. “Queremos que seja barato, provavelmente entre R$ 15 e R$ 20, mas ainda não sabemos se é viável”, diz.
Além do espaço fornecido pela USP, a equipe não contou com nenhum investimento desde o começo. “Conversamos com o pessoal da Microsoft durante a competição para nos aproximar do pessoal do Xbox. Também pensamos em nos inscrever em uma aceleradora. Acreditamos que precisamos de apoio, pois ainda estamos no começo de tudo”, afirma Araújo.