quinta-feira, 28 de abril de 2016

Cientista da Computação fala do impacto da programação da sociedade moderna.

Cientista da Computação fala do impacto da programação da sociedade moderna.
Cientista da Computação fala do impacto da programação da sociedade moderna.
"Sou professor da Fatec São José dos Campos, e o que gosto mesmo é de dar aula de programação. Queria ser jornalista, como meu pai, mas ele achava que minha cabeça era muito desordenada e que seria melhor fazer faculdade de exatas para organizar o raciocínio. Fiz computação no IME-USP e mestrado no ITA."

Conte algo que não sei.

Em fevereiro, passei dez dias na Namíbia ministrando um curso de programação de sites a 40 mulheres. Nenhuma delas era da área de exatas, e várias não tinham computador. Uma das alunas era ativista social e desejava criar um blog para atingir universitários com a causa feminista. Outra, do terceiro ano de Medicina, foi finalista do Miss Namíbia. Havia biólogas e gente sem qualquer relação com a universidade. Muita gente está tentando aprender a programar para fazer as coisas andarem. Antigamente, era coisa de nerd!

Por que há esse interesse?

A programação está no dia a dia por causa de redes sociais e aplicativos. Quer queira ou não, você interage com ela. É necessária para entender o universo ao redor.

Como a programação pode ser usada pela sociedade fora do limite da ciência?

Programar significa ter acesso à informação. Eu sei quantas são, inclusive com seus endereços exatos, as escolas brasileiras sem acesso à água, luz ou esgoto. São 968. Eu sei disso graças a apenas 11 linhas de código Python (uma linguagem de programação), que me permitem acessar os dados do Inep e fazer cruzamentos com esses critérios. Isso é um dado relevante para a sociedade.

Programação deve ser ensinada na escola?

A criança muito pequena ainda não tem habilidade suficiente para abstração. A criança precisa estar aberta àquilo que é indeterminado. A arte, a música, o amor... São coisas que você não programa. Até certa idade, o determinismo é muito perigoso. É limitador. Na Inglaterra, já é previsto o ensino de duas linguagens de programação no ensino médio. Isso é interessante.

Dê um exemplo prático sobre como entender a linguagem dos softwares é útil a todos.

O pessoal pode ficar mais esperto. Quando vou comprar passagem aérea, entro sempre no modo de navegação anônimo. Se não, a passagem fica mais cara, pois a empresa sabe que você está interessado naquela passagem com base em seu histórico. Isso é uma lógica de programação que o usuário pode ter para não ser burlado pelo sistema.

Cite um modelo de aplicação de forte impacto social.

Um aplicativo do Unicef implantado em Uganda, o U-Report. Lá, praticamente, não há acesso a smartphones. Então, inventaram um sistema de mensagem de texto do qual participam 135 mil voluntários, a maioria adolescentes que querem a ajudar a sociedade. O sistema manda um SMS perguntando, por exemplo: “Tem algum médico atendendo a caso de ebola na sua aldeia?”. Os usuários só precisam responder “1” para sim ou “2” para não. O sistema triangula as torres de celular para encontrar a localização exata da pessoa e faz um mapa planejar a logística de atendimento aos doentes. Isso tem sido muito usado, por exemplo, em casos de mutilação genital. Uma aluna minha participou do programa, e minha sugestão é que esse sistema seja reaproveitado no Brasil.

Empresas como Facebook e Google são cada vez mais criticadas pelo poder que seus algoritmos exercem na sociedade. Isso o preocupa?

Ou você programa ou você é programado. Esses caras estão começando a ter muito poder, e utilizam nossos dados para vender anúncio. Isso não é bom, de certa forma, porque você é vigiado. É um Grande Irmão. Mas esse é o lado negativo da tecnologia. Há muitos lados positivos.

Fonte: O Globo.




> Comunidade Brasileira de Sistemas de Informação
> Fundada em 13 de Outubro de 2011
> E-mail: comunidadebsi@gmail.com
Local: Manaus, Amazonas, Brasil.

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