domingo, 3 de abril de 2016

Cracker diz ter influenciado eleições em sete países da América Latina.

Andrés logo após ser preso pela polícia colombiana.
Um Cracker colombiano afirmou ter invadido computadores, e-mails e contas nas redes sociais de diversos candidatos à Presidência enquanto trabalhava em campanhas eleitorais em oito países da América Latina.

Andrés Sepúlveda cumpre pena de dez anos de prisão em seu país por formação de quadrilha, espionagem, violação de dados pessoais, acesso eletrônico ilegal e uso de software danoso.

A condenação refere-se à espionagem que ele ajudou a fazer contra o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e o processo de paz entre o governo e as Farc em 2014, quando o mandatário se reelegeu.

Ele disse que agia pela campanha de Óscar Iván Zuluaga, ligado ao ex-presidente Álvaro Uribe. Para tentar tirar votos de Santos, disseminou, por meio de perfis falsos, o boato de que as Farc cometeriam crimes depois que estabelecesse acordo de paz com o governo colombiano.

Este foi o último trabalho da carreira de Sepúlveda em eleições. Em entrevista à revista americana "Bloomberg Businessweek" divulgada na quinta-feira (31/03), ele disse ter influenciado eleições em pelo menos sete países.

A estratégia incluía grampos telefônicos, invasão em servidores de campanha, contas de e-mail e redes sociais de adversários, e criação de perfis falsos para disseminar boatos e notícias que difamassem os rivais.

Na maior parte dos casos, ele trabalhou com a equipe do colombiano Juan José Rendón, marqueteiro de campanhas em diversos países latino-americanos. Rendón nega qualquer relação com Sepúlveda.

México

Pelo relato do Cracker, o caso mais grave ocorreu na eleição presidencial do México, em 2012. Na época, ele trabalhou para o comando de campanha do vencedor do pleito, Enrique Peña Nieto, candidato pelo PRI.

Segundo Sepúlveda, ele foi capaz de captar os discursos dos adversários de Peña Nieto, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador e a governista Josefina Vázquez Mota, no momento em que escreviam.

Os candidatos também tinham seus telefones interceptados. Tudo isso foi possível graças a equipamentos comprados pela campanha do atual presidente, incluindo um software russo de US$ 50 mil (R$ 180 mil).

Em uma das ofensivas, sua equipe usou 30 mil contas no Twitter para tornar emplacar a proposta de combate às drogas de Peña Nieto. A equipe do atual presidente negou qualquer relação dele com o cracker.

Ainda no México, o cracker conta que criou perfis falsos de homens gays que apoiavam um candidato regional católico e programou computadores para ligarem aos eleitores às 3h da manhã com mensagens de um adversário político.

Convicção

Embora cobrasse um mínimo de US$ 12 mil (R$ 43,2 mil) por trabalho, Sepúlveda afirmou agir por convicção. Quando criança, sua família foi muito ameaçada por membros das Farc e do ELN (Exército de Libertação Nacional).

Isso o fez se tornar um aliado ferrenho de Álvaro Uribe, a ponto de abandonar Juan José Rendón quando este resolveu chefiar a campanha de Santos em 2014. Na época, o presidente colombiano havia rompido com seu antecessor.

Neste período, fez trabalhos para partidos de centro-direita e direita, empenhando-se especialmente contra candidatos e líderes bolivarianos, como o venezuelano Hugo Chávez e o nicaraguense Daniel Ortega.

"Não me arrependo de nada porque fiz com plena convicção e sob o objetivo claro de acabar com as ditaduras e os governos socialistas na América Latina", disse Sepúlveda à "Bloomberg Businessweek".

Um dos exemplos que cita como ação por convicção foi a invasão do e-mail do ex-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela Diosdado Cabello em 2012. Como resultado, publicou diversas mensagens em um vídeo na internet.

No ano seguinte, ele invadiu o Twitter do atual presidente, Nicolás Maduro, e publicou denúncias de fraude eleitoral. Na época, o mandatário derrubou a internet venezuelana por 20 minutos devido a "invasões conspiratórias do exterior".




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