Visão dos brasileiros sobre a C&T. |
Os brasileiros apresentam atitudes positivas em relação à ciência e
tecnologia (C&T) e manifestam ter grande interesse por esses temas. O
acesso à informação científica e tecnológica, contudo, especialmente
nas camadas sociais de menor escolaridade e renda no Brasil, ainda é
bastante limitado.
As constatações são da quarta edição da pesquisa “Percepção pública da
ciência, tecnologia e inovação no Brasil, 2015”, realizada pelo Centro
de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI).
Os principais resultados da pesquisa foram apresentados na segunda-feira (13/07) durante a 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Aberta no dia 12, a reunião ocorre até o próximo sábado (18/07) no campus da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
“A pesquisa apresenta um panorama estatisticamente robusto da percepção que a sociedade brasileira tem sobre ciência e tecnologia”, disse Mariano Laplane, presidente do CGEE.
“Os brasileiros manifestam ter curiosidade, respeito e uma enorme expectativa de que a ciência e a tecnologia possam melhorar suas condições de vida. É importante, entretanto, que, além dessa curiosidade, a sociedade brasileira também tome mais conhecimento do avanço e dos êxitos da ciência brasileira”, apontou.
A pesquisa ouviu 1.962 brasileiros de todas as regiões do país, com 16 anos ou mais, estratificados por gênero, faixa etária, escolaridade e renda.
De acordo com o estudo, 61% dos entrevistados demonstraram interesse ou muito interesse por C&T. O índice é comparável ao de países que realizaram pesquisas de percepção pública semelhantes, comparam os autores do estudo.
Na União Europeia, por exemplo, 53% dos participantes de uma pesquisa realizada em 2013 afirmaram ter interesse por assuntos relacionados à C&T.
No Brasil, o tema é o quinto que mais atrai a atenção da população, atrás de Medicina e Saúde (78%), Meio Ambiente (78%), Religião (75%) e Economia (68%), e maior do que em Arte e Cultura (57%), Esportes (56%), Moda (34%) e Política (27%).
Embora a atitude dos brasileiros seja positiva e o interesse por C&T seja alto, o acesso à informação é baixo, indica a pesquisa.
A TV é o principal meio de comunicação usado por 21% dos entrevistados para adquirir informações sobre C&T. Por outro lado, a maioria declarou informar-se nunca ou quase nunca sobre esse tema em outros meios de comunicação, como jornais, revistas, livros, rádio e conversas com amigos.
No entanto, mais que dobrou o uso da internet e das redes sociais como fonte de informação sobre C&T especialmente por jovens, saltando de 23% em 2006 para 48%, e se aproximando da TV, apontou a pesquisa.
Os entrevistados declararam utilizar sites de instituições de pesquisa, seguidos de sites de jornais e revistas, além do Facebook, Wikipedia e blogs, como fonte de informação sobre C&T.
“O baixo nível de informação sobre C&T da sociedade brasileira representa um desafio para a comunidade científica, para o governo e também para a mídia”, avaliou Laplane.
“Estamos constatando com preocupação que, nos últimos anos, o espaço dos cadernos de ciência e tecnologia dos principais jornais do país estão encolhendo e, em alguns casos, desaparecendo. Além disso, o pouco conteúdo que está sendo transmitido para a sociedade sobre grandes conquistas da ciência, na grande maioria das vezes, faz referência a avanços em outros lugares do mundo e, raramente, de exemplos brasileiros”, afirmou.
A pesquisa apontou que uma parcela muito pequena da população consegue lembrar o nome de algum cientista brasileiro importante ou de alguma instituição de pesquisa nacional.
O desconhecimento entre os jovens é particularmente significativo, mas mesmo entre pessoas com título superior a porcentagem de entrevistados que souberam mencionar um cientista brasileiro foi muito baixa.
“Temos que valorizar os prêmios e as conquistas dos cientistas brasileiros sem pudor e ter mais ‘celebridades’ da ciência, a exemplo do Artur Ávila [o primeiro matemático formado no Hemisfério Sul que recebeu a medalha Fields, considerada a distinção máxima na área]”, disse Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
“Isso é importante para a difusão da ciência brasileira e para atrair a atenção de crianças e jovens para a ciência”, avaliou.
Atitudes positivas
A pesquisa também indicou que os brasileiros veem a ciência como geradora de resultados aplicáveis às suas vidas e capaz de solucionar problemas relacionados à saúde e às mudanças climáticas, por exemplo.
A grande maioria dos entrevistados (73%) declarou acreditar que a C&T traz mais benefícios que malefícios para a população, sendo essencial para a indústria e ajudando a diminuir as desigualdades sociais.
Comparados os resultados com outras enquetes internacionais, o Brasil se destaca como um dos países mais otimistas quanto aos benefícios das atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), afirmam os autores da pesquisa.
A China possui um índice igual ao brasileiro (73%). Já nos Estados Unidos esse índice atinge 67%, na Espanha 64%, seguida pela Itália com 46% e a França com 43%.
Apesar da visão otimista, a postura dos brasileiros é crítica, aponta a pesquisa. A maioria dos participantes expressou preocupação em relação a aspectos éticos, políticos e ao controle social da C&T.
A maioria dos entrevistados considera que é necessário estabelecer padrões éticos sobre o trabalho dos cientistas, que esses profissionais devem expor publicamente os riscos decorrentes de suas pesquisas e que deveria haver maior participação da população nas grandes decisões sobre os rumos da C&T no país.
“A pesquisa mostra que o brasileiro não é ignorante em relação à ciência e tecnologia. Ele não tem informação, mas tem um posicionamento crítico e percebe que a ciência, por si só, não resolve todos os problemas”, disse Ildeu Moreira, consultor do estudo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), à Agência FAPESP.
A grande maioria dos entrevistados (78%) também apoia a ideia de que devem ser feitos maiores investimentos públicos em C&T no país e só 3% defendem que deveriam diminuir.
Na Argentina, a porcentagem dos que defendem mais recursos para a C&T alcança 63%. Já na Suécia, Espanha e França esse índice atinge 40%, e 25% na Alemanha e no Reino Unido, comparam os autores do estudo.
“A pesquisa revela as virtudes e deficiências das ações de divulgação científica no Brasil”, avaliou José Aldo Rebelo, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação. “Precisamos ter uma política de popularização da ciência no país que ajude a formar uma mentalidade científica da população como condição para o exercício da vida democrática”, avaliou.
Segundo os autores, a pesquisa foi realizada em conformidade com os padrões adotados em estudos semelhantes feitos não só em países desenvolvidos, como os Estados Unidos e nações da União Europeia, como também na América Latina.
No Brasil, além do MCTI, a FAPESP e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) financiaram estudos semelhantes recentemente.
“Essas pesquisas possibilitam obtermos um universo de informações extremamente ricas para avaliarmos o posicionamento do Brasil em comparação com outros países em relação à ciência e tecnologia e também verificarmos as transformações de atitudes da população em relação a esses temas ao longo do tempo”, disse Laplane.
Os dados do estudo podem ser acessados no endereço percepcaocti.cgee.org.br.
Agência FAPESP
Os principais resultados da pesquisa foram apresentados na segunda-feira (13/07) durante a 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Aberta no dia 12, a reunião ocorre até o próximo sábado (18/07) no campus da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
“A pesquisa apresenta um panorama estatisticamente robusto da percepção que a sociedade brasileira tem sobre ciência e tecnologia”, disse Mariano Laplane, presidente do CGEE.
“Os brasileiros manifestam ter curiosidade, respeito e uma enorme expectativa de que a ciência e a tecnologia possam melhorar suas condições de vida. É importante, entretanto, que, além dessa curiosidade, a sociedade brasileira também tome mais conhecimento do avanço e dos êxitos da ciência brasileira”, apontou.
A pesquisa ouviu 1.962 brasileiros de todas as regiões do país, com 16 anos ou mais, estratificados por gênero, faixa etária, escolaridade e renda.
De acordo com o estudo, 61% dos entrevistados demonstraram interesse ou muito interesse por C&T. O índice é comparável ao de países que realizaram pesquisas de percepção pública semelhantes, comparam os autores do estudo.
Na União Europeia, por exemplo, 53% dos participantes de uma pesquisa realizada em 2013 afirmaram ter interesse por assuntos relacionados à C&T.
No Brasil, o tema é o quinto que mais atrai a atenção da população, atrás de Medicina e Saúde (78%), Meio Ambiente (78%), Religião (75%) e Economia (68%), e maior do que em Arte e Cultura (57%), Esportes (56%), Moda (34%) e Política (27%).
Embora a atitude dos brasileiros seja positiva e o interesse por C&T seja alto, o acesso à informação é baixo, indica a pesquisa.
A TV é o principal meio de comunicação usado por 21% dos entrevistados para adquirir informações sobre C&T. Por outro lado, a maioria declarou informar-se nunca ou quase nunca sobre esse tema em outros meios de comunicação, como jornais, revistas, livros, rádio e conversas com amigos.
No entanto, mais que dobrou o uso da internet e das redes sociais como fonte de informação sobre C&T especialmente por jovens, saltando de 23% em 2006 para 48%, e se aproximando da TV, apontou a pesquisa.
Os entrevistados declararam utilizar sites de instituições de pesquisa, seguidos de sites de jornais e revistas, além do Facebook, Wikipedia e blogs, como fonte de informação sobre C&T.
“O baixo nível de informação sobre C&T da sociedade brasileira representa um desafio para a comunidade científica, para o governo e também para a mídia”, avaliou Laplane.
“Estamos constatando com preocupação que, nos últimos anos, o espaço dos cadernos de ciência e tecnologia dos principais jornais do país estão encolhendo e, em alguns casos, desaparecendo. Além disso, o pouco conteúdo que está sendo transmitido para a sociedade sobre grandes conquistas da ciência, na grande maioria das vezes, faz referência a avanços em outros lugares do mundo e, raramente, de exemplos brasileiros”, afirmou.
A pesquisa apontou que uma parcela muito pequena da população consegue lembrar o nome de algum cientista brasileiro importante ou de alguma instituição de pesquisa nacional.
O desconhecimento entre os jovens é particularmente significativo, mas mesmo entre pessoas com título superior a porcentagem de entrevistados que souberam mencionar um cientista brasileiro foi muito baixa.
“Temos que valorizar os prêmios e as conquistas dos cientistas brasileiros sem pudor e ter mais ‘celebridades’ da ciência, a exemplo do Artur Ávila [o primeiro matemático formado no Hemisfério Sul que recebeu a medalha Fields, considerada a distinção máxima na área]”, disse Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
“Isso é importante para a difusão da ciência brasileira e para atrair a atenção de crianças e jovens para a ciência”, avaliou.
Atitudes positivas
A pesquisa também indicou que os brasileiros veem a ciência como geradora de resultados aplicáveis às suas vidas e capaz de solucionar problemas relacionados à saúde e às mudanças climáticas, por exemplo.
A grande maioria dos entrevistados (73%) declarou acreditar que a C&T traz mais benefícios que malefícios para a população, sendo essencial para a indústria e ajudando a diminuir as desigualdades sociais.
Comparados os resultados com outras enquetes internacionais, o Brasil se destaca como um dos países mais otimistas quanto aos benefícios das atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), afirmam os autores da pesquisa.
A China possui um índice igual ao brasileiro (73%). Já nos Estados Unidos esse índice atinge 67%, na Espanha 64%, seguida pela Itália com 46% e a França com 43%.
Apesar da visão otimista, a postura dos brasileiros é crítica, aponta a pesquisa. A maioria dos participantes expressou preocupação em relação a aspectos éticos, políticos e ao controle social da C&T.
A maioria dos entrevistados considera que é necessário estabelecer padrões éticos sobre o trabalho dos cientistas, que esses profissionais devem expor publicamente os riscos decorrentes de suas pesquisas e que deveria haver maior participação da população nas grandes decisões sobre os rumos da C&T no país.
“A pesquisa mostra que o brasileiro não é ignorante em relação à ciência e tecnologia. Ele não tem informação, mas tem um posicionamento crítico e percebe que a ciência, por si só, não resolve todos os problemas”, disse Ildeu Moreira, consultor do estudo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), à Agência FAPESP.
A grande maioria dos entrevistados (78%) também apoia a ideia de que devem ser feitos maiores investimentos públicos em C&T no país e só 3% defendem que deveriam diminuir.
Na Argentina, a porcentagem dos que defendem mais recursos para a C&T alcança 63%. Já na Suécia, Espanha e França esse índice atinge 40%, e 25% na Alemanha e no Reino Unido, comparam os autores do estudo.
“A pesquisa revela as virtudes e deficiências das ações de divulgação científica no Brasil”, avaliou José Aldo Rebelo, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação. “Precisamos ter uma política de popularização da ciência no país que ajude a formar uma mentalidade científica da população como condição para o exercício da vida democrática”, avaliou.
Segundo os autores, a pesquisa foi realizada em conformidade com os padrões adotados em estudos semelhantes feitos não só em países desenvolvidos, como os Estados Unidos e nações da União Europeia, como também na América Latina.
No Brasil, além do MCTI, a FAPESP e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) financiaram estudos semelhantes recentemente.
“Essas pesquisas possibilitam obtermos um universo de informações extremamente ricas para avaliarmos o posicionamento do Brasil em comparação com outros países em relação à ciência e tecnologia e também verificarmos as transformações de atitudes da população em relação a esses temas ao longo do tempo”, disse Laplane.
Os dados do estudo podem ser acessados no endereço percepcaocti.cgee.org.br.
Agência FAPESP