A difícil missão de ser mulher no mercado de TI. |
Pense em um profissional que mudou a história da tecnologia. Se as pessoas que vieram à sua mente foram Bill Gates, Steve Jobs ou qualquer outro nome masculino, não é à toa. Embora a história da computação seja marcada por contribuições de grandes mulheres, como Ada Lovelace, Grace Hopper, Irmã Mary Kenneth Keller e Hedy Lamarr, as mulheres ainda ocupam o segundo plano neste mercado.
De acordo com levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), dos mais de 580 mil profissionais de TI que atuam no Brasil, apenas 20% são mulheres. O baixo percentual se estende mundo afora. Nos Estados Unidos, o último censo estima que elas ocupam apenas 25% dos empregos em TI. No ano passado, o Google revelou que apenas 30% de todos os seus colaboradores são do sexo feminino.
Essa participação minoritária não é mero acaso.
Meninos e meninas
Para Bárbara Castro, doutorada em Sociologia especializada em relações de trabalho no setor de tecnologia, o problema começa na infância. De acordo com a pesquisadora, o tipo de educação que as crianças recebem nas escolas e famílias influencia as futuras decisões de carreira.
“Desde cedo, as pessoas ‘aprendem’ que existem habilidades mais qualificadas como femininas e outras como masculinas, e isso se traduz na escolha profissional. As mulheres se concentram no mercado de trabalho e nas fileiras universitárias nas carreiras relativas às áreas do cuidado, como de educação, saúde e comunicação”, explica Bárbara.
Mas há algumas exceções à regra. É o caso de Stephanie Blum. Formada em Matemática Aplicada e Computacional na Universidade de São Paulo (USP), a gerente de projetos de TI, desde cedo, curtia exatas e recebeu apoio da família para seguir nesse caminho.
A carreira em Tecnologia surgiu naturalmente na vida dela.
“Sempre gostei de tecnologia e computadores. Eu era muito curiosa sobre como tudo funcionava e fui aprendendo sozinha a mexer no computador de casa. Aí, na faculdade, tive algumas matérias de programação das quais gostei bastante”, conta Stephanie.
Preconceito na universidade
Minoria nos cursos de graduação em Tecnologia, é comum que as mulheres enfrentem preconceito na universidade. As mulheres que decidem optar por carreiras mais ligadas às exatas, como Engenharia ou Ciência da Computação, encaram novas barreiras.
“Nos relatos que eu ouvi para a minha tese de doutorado, as meninas reclamavam, também, do preconceito dentro da universidade. Professores e colegas duvidavam da capacidade que elas tinham de resolver questões técnicas. Muitas acabam desistindo no processo de formação e vão para outras áreas”, conta Bárbara.
De fato, segundo o levantamento do PNAD, 79% das mulheres que ingressam em cursos relacionados à área de TI abandonam a faculdade ainda no primeiro ano.
Maria Tereza Fernandes, professora da SuperGeeks, escola de programação e robótica, sentiu esse drama na pele.
“Eu nunca me senti ofendida, mas percebo que alguns professores ficam meio protetores, achando que determinado assunto é muito ‘puxado’ para mulheres”, relata Maria Tereza.
Para ela, a trajetória diferente de meninos e meninas nos anos que antecedem o ingresso na faculdade – influenciada pela pressão social – também coloca um peso adicional sobre as mulheres.
“Assim que passei no vestibular, senti que a maioria dos meninos já entrava para a faculdade com uma bagagem de programação das escolas técnicas que fizeram. Acho que a cultura de influenciar e apoiar os meninos a seguir profissões que envolvem tecnologia explica isso”, observa Stephanie.
Cotidiano “cruel”
Mas, contrariando as estatísticas, muitas mulheres, como Stephanie e Maria Tereza, encaram esses desafios e ingressam no mercado de trabalho.
Aí é hora de enfrentar novos obstáculos: perder promoções para colegas homens menos qualificados, ouvir piadas machistas e até receber propostas para ser deslocada para áreas “menos técnicas”.
Stephanie conta que era comum ela não ser convidada para os happy hours. Mas o pior aconteceu quando ela começou a trabalhar em um banco de investimentos. “Meu chefe falou que eu era a primeira mulher a sentar naquela cadeira e que ia ver quanto tempo eu duraria lá”, diz a gerente de TI.
Em meio a esse ambiente hostil, muitas acabam até abrindo mão da própria identidade para se adaptar. “Ouvi muitas histórias de mulheres que chegavam a se vestir de maneira muito diferente da que gostariam para sobreviver naquele espaço”, conta a socióloga Bárbara.
As mulheres sofrem ainda com o próprio regime de trabalho predominante no mercado. A contratação no regime de Pessoa Jurídica (PJ) é comum no setor. O problema é que ela não garante estabilidade nem licença-maternidade para as grávidas. Muitos contratantes acabam dispensando a funcionária nesse momento, sem nenhum tipo de indenização ou mesmo exigindo que elas retornem ao trabalho antecipadamente.
“Sem direito à licença-maternidade, a saída que algumas mulheres encontram é fazer home office. Trabalhando de casa, elas conseguem conciliar a carreira profissional com a vida familiar, mas não conseguem dedicar a atenção exclusiva ao filho, como gostariam”, relata Bárbara.
Driblando as barreiras
Apesar de tantos obstáculos, não faltam exemplos inspiradores de mulheres que desafiam os preconceitos e provam que lugar de mulher é na TI, sim. É o caso de Marissa Mayer, cientista da computação que ocupou posições estratégicas de liderança no Google e hoje é CEO do Yahoo! Ginni Rometty, CEO da IBM, e Sheryl Sandberg, COO do Facebook, também estão entre as executivas mais poderosas do Vale do Silício.
Com competência de sobra, elas ajudam a pintar um cenário mais positivo para o futuro. “Acho que as pessoas estão se acostumando a ver mulheres em tecnologia, e a resistência tende a diminuir”, conclui Stephanie.
Que elas venham em peso!
De acordo com levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), dos mais de 580 mil profissionais de TI que atuam no Brasil, apenas 20% são mulheres. O baixo percentual se estende mundo afora. Nos Estados Unidos, o último censo estima que elas ocupam apenas 25% dos empregos em TI. No ano passado, o Google revelou que apenas 30% de todos os seus colaboradores são do sexo feminino.
Essa participação minoritária não é mero acaso.
Meninos e meninas
Para Bárbara Castro, doutorada em Sociologia especializada em relações de trabalho no setor de tecnologia, o problema começa na infância. De acordo com a pesquisadora, o tipo de educação que as crianças recebem nas escolas e famílias influencia as futuras decisões de carreira.
“Desde cedo, as pessoas ‘aprendem’ que existem habilidades mais qualificadas como femininas e outras como masculinas, e isso se traduz na escolha profissional. As mulheres se concentram no mercado de trabalho e nas fileiras universitárias nas carreiras relativas às áreas do cuidado, como de educação, saúde e comunicação”, explica Bárbara.
Mas há algumas exceções à regra. É o caso de Stephanie Blum. Formada em Matemática Aplicada e Computacional na Universidade de São Paulo (USP), a gerente de projetos de TI, desde cedo, curtia exatas e recebeu apoio da família para seguir nesse caminho.
A carreira em Tecnologia surgiu naturalmente na vida dela.
“Sempre gostei de tecnologia e computadores. Eu era muito curiosa sobre como tudo funcionava e fui aprendendo sozinha a mexer no computador de casa. Aí, na faculdade, tive algumas matérias de programação das quais gostei bastante”, conta Stephanie.
Preconceito na universidade
Minoria nos cursos de graduação em Tecnologia, é comum que as mulheres enfrentem preconceito na universidade. As mulheres que decidem optar por carreiras mais ligadas às exatas, como Engenharia ou Ciência da Computação, encaram novas barreiras.
“Nos relatos que eu ouvi para a minha tese de doutorado, as meninas reclamavam, também, do preconceito dentro da universidade. Professores e colegas duvidavam da capacidade que elas tinham de resolver questões técnicas. Muitas acabam desistindo no processo de formação e vão para outras áreas”, conta Bárbara.
De fato, segundo o levantamento do PNAD, 79% das mulheres que ingressam em cursos relacionados à área de TI abandonam a faculdade ainda no primeiro ano.
Maria Tereza Fernandes, professora da SuperGeeks, escola de programação e robótica, sentiu esse drama na pele.
“Eu nunca me senti ofendida, mas percebo que alguns professores ficam meio protetores, achando que determinado assunto é muito ‘puxado’ para mulheres”, relata Maria Tereza.
Para ela, a trajetória diferente de meninos e meninas nos anos que antecedem o ingresso na faculdade – influenciada pela pressão social – também coloca um peso adicional sobre as mulheres.
“Assim que passei no vestibular, senti que a maioria dos meninos já entrava para a faculdade com uma bagagem de programação das escolas técnicas que fizeram. Acho que a cultura de influenciar e apoiar os meninos a seguir profissões que envolvem tecnologia explica isso”, observa Stephanie.
Cotidiano “cruel”
Mas, contrariando as estatísticas, muitas mulheres, como Stephanie e Maria Tereza, encaram esses desafios e ingressam no mercado de trabalho.
Aí é hora de enfrentar novos obstáculos: perder promoções para colegas homens menos qualificados, ouvir piadas machistas e até receber propostas para ser deslocada para áreas “menos técnicas”.
Stephanie conta que era comum ela não ser convidada para os happy hours. Mas o pior aconteceu quando ela começou a trabalhar em um banco de investimentos. “Meu chefe falou que eu era a primeira mulher a sentar naquela cadeira e que ia ver quanto tempo eu duraria lá”, diz a gerente de TI.
Em meio a esse ambiente hostil, muitas acabam até abrindo mão da própria identidade para se adaptar. “Ouvi muitas histórias de mulheres que chegavam a se vestir de maneira muito diferente da que gostariam para sobreviver naquele espaço”, conta a socióloga Bárbara.
As mulheres sofrem ainda com o próprio regime de trabalho predominante no mercado. A contratação no regime de Pessoa Jurídica (PJ) é comum no setor. O problema é que ela não garante estabilidade nem licença-maternidade para as grávidas. Muitos contratantes acabam dispensando a funcionária nesse momento, sem nenhum tipo de indenização ou mesmo exigindo que elas retornem ao trabalho antecipadamente.
“Sem direito à licença-maternidade, a saída que algumas mulheres encontram é fazer home office. Trabalhando de casa, elas conseguem conciliar a carreira profissional com a vida familiar, mas não conseguem dedicar a atenção exclusiva ao filho, como gostariam”, relata Bárbara.
Driblando as barreiras
Apesar de tantos obstáculos, não faltam exemplos inspiradores de mulheres que desafiam os preconceitos e provam que lugar de mulher é na TI, sim. É o caso de Marissa Mayer, cientista da computação que ocupou posições estratégicas de liderança no Google e hoje é CEO do Yahoo! Ginni Rometty, CEO da IBM, e Sheryl Sandberg, COO do Facebook, também estão entre as executivas mais poderosas do Vale do Silício.
Com competência de sobra, elas ajudam a pintar um cenário mais positivo para o futuro. “Acho que as pessoas estão se acostumando a ver mulheres em tecnologia, e a resistência tende a diminuir”, conclui Stephanie.
Que elas venham em peso!
Artigo original de: UOL Host.