Simulador do CSA, no Rio de Janeiro, reproduz sala de controle de um navio de apoio para atividades offshore |
A evolução da navegação mundial, com o uso cada
vez maior de recursos eletrônicos nas embarcações, e o aumento das
atividades offshore no País forçaram a definição de novas estratégias
para a qualificação de oficiais da Marinha Mercante. E a ferramenta
escolhida para melhorar o treinamento desses profissionais é a
tecnologia, principalmente os sistemas de simulação, que reproduzem
situações reais de emergência que podem ser enfrentadas pelos
aquaviários em alto-mar.
No
Rio de Janeiro, o Centro de Simulação Aquaviária (CSA) foi idealizado
há dez anos, pelo Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar),
para a qualificação de profissionais da área. Ele é administrado pela
Fundação Homem do Mar (FHM) e oferece cursos para os bacharéis em
Ciências Náuticas formados pela Escola de Formação de Oficiais de
Marinha Mercante (Efomm).
No
CSA, a principal premissa é mostrar ao aluno, que já é um profissional
da Marinha Mercante, situações que podem ser enfrentadas no dia a dia do
trabalho no mar. Para isso, a ferramenta mais utilizada é a simulação. O
ambiente em que são aplicados esses exercícios conta com um passadiço
(a ponte ou sala de comando, de onde se navega a embarcação) de um navio
de apoio a operações offshore, composto por um console de vante e outro
de ré – que podem ser usados como dois navios independentes. Os
equipamentos levam em consideração a intensidade da corrente e do vento,
a altura das ondas, a influência da maré e a interação com o fundo e
com outras embarcações.
O
balanço do navio e as condições meteorológicas, com a possibilidade de
chuva, neve, gelo, relâmpagos e trovões, também podem ser reproduzidos
no ambiente, assim como o nível de iluminação – luz do dia, crepúsculo
ou escuridão. Há ainda a possibilidade de visualizar as constelações,
conforme a região geográfica do exercício que está sendo realizado.
O
cenário na sala se torna tão real que, em alguns casos, alunos ficam
até enjoados, mareados, como se estivessem a bordo. E a ideia é
justamente esta: proporcionar ao aquaviário as mesmas situações
enfrentadas durante uma emergência no mar.
“A
simulação sempre foi utilizada neste sentido. Talvez aqui, no Brasil, a
gente não tivesse essa consciência de usar pessoas pilotando navios
dentro de uma sala de simulação e analisar as condições. Talvez fosse
surreal, fora da realidade. E no local real, fosse tudo diferente. Não, a
simulação está aqui para isso. Na aviação, já existe há muito tempo.
Dentro do simulador, é muito factível, por exemplo, criar situações de
emergências”, explicou o coordenador geral do FHM e do CSA, José Mário
Santos Calixto.
Simuladores
Simuladores
de praças de máquinas e programas de resposta a incidentes, destinado à
atividades de prevenção e combate à poluição, integram a estrutura do
CSA. Eles são usados em cursos voltados à proteção do meio ambiente e à
segurança da navegação.
A
entidade também utiliza equipamentos que permitem a simulação de
carregamentos e descargas em embarcações de granéis líquidos. A operação
pode gerar situações críticas, em que é necessário tomar decisões
rápidas ou ainda fazer cálculos exatos para garantir a estabilidade do
navio.
“Temos o curso de
Gerenciamento de Recursos. Esse tipo de curso é voltado para o
comportamento do tripulante em caso de situações de emergências. A
ferramenta da simulação é excelente para análise”, explicou o
coordenador-geral do CSA.
Segundo José
Mário Santos Calixto, a principal mudança nos programas de qualificação
profissional do setor aquaviário, ao longo dos anos, foi a entrada da
tecnologia. “Na verdade, as embarcações sempre foram muito tecnológicas
quando comparadas a outros veículos, como os carros, por exemplo. Mas,
nesses últimos anos, com o advento das áreas de exploração, as
embarcações offshore começaram a ter bastante equipamentos, que
logicamente tem um valor agregado bastante grande a bordo. Dentro
do próprio passadiço, por exemplo, a carta (a carta náutica, o mapa com
informações sobre a geografia da costa ou de um rio), que era de papel,
passou a ser eletrônica. Os próprios radares foram ganhando
características que melhoram sua performance. Os equipamentos para
sistema de referência também. A todo momento, eles foram se
atualizando”.
Treinamentos
Neste
novo cenário da navegação, a qualificação passou a ser mais do que um
diferencial. Tornou-se uma necessidade. Para o coordenador do CSA, é
importante que o oficial de Marinha Mercante tenha em mente que, na
profissão, a atualização deve ser constante, mesmo que não sejam
exigidas novas capacitações.
“Há
treinamentos que são feitos pois o aquaviário precisa de uma
certificação exigida por um órgão. E existem os que são importantes de
serem feitos mesmo que nenhum órgão fiscalizador cobre isso, como o da
situação de emergências”, destacou o coordenador geral do Centro de
Simulação Aquaviária, José Mário Santos Calixto.