Duração reduzida e currículo mais prático focado na preparação do
mercado de trabalho têm levado a um aumento expressivo no número de
matrículas de cursos na área de tecnologia da informação. Diferentemente
das graduações tradicionais, os cursos tecnólogos e com foco em
desenvolvimento de programas e aplicativos (Apps) ganham cada vez mais
adesão. Com aulas focadas no treinamento prático, os alunos aplicam
exercícios que vão utilizar no mercado e a expansão de matrículas têm
surpreendido. Houve crescimento de 51% nos últimos quatro anos. Em 2009,
486.730 estudantes estavam matriculados em cursos desta modalidade. Em
2012, o número havia subido para quase um milhão de alunos, conforme o
Censo da Educação Superior e o Inep.
O mercado observa que a demanda pelo ensino de TI cresce, ao passo
que a idade dos alunos diminui. O presidente-fundador do grupo Impacta
de tecnologia educacional, Célio Antunes, acredita que para esses jovens
o segmento é promissor, principalmente porque classifica os alunos como
interessados em aprender uma linguagem do futuro. "O cara não vem até
uma aula de programação, design ou arquitetura de redes para brincar.
Vem com visão empreendedora, aquilo que eu chamo de "Visão 360 graus",
um olhar sobre tudo o que precisa para ter sucesso", diz.
O Grupo Impacta faturou R$ 50 milhões no ano passado e projeta fechar
2014 com ganhos na faixa de R$ 55 milhões. Depois de 25 anos de
fundação, a empresa acaba de abrir uma planta de 10 mil metros quadrados
na cidade de São Paulo, comprada com parte de capital próprio e outra
parcela financiada. O local, na Barra Funda, está pronto para atender 20
mil estudantes. A demanda neste mercado, segundo Antunes, cresce 15% ao
ano. Com quase quatro mil alunos somente na nova unidade e 600
funcionários, ao todo, a empresa vê crescimento de 500 alunos ao ano.
Assim, a companhia espera chegar ao final de 2014 com mil novas
matrículas.
Segundo Célio Antunes, a evasão dos matriculados é próxima do zero,
por conta dos preços dos cursos, que são altos e do foco empreendedor
que o perfil dos alunos apresenta. Além da alta procura por seus cursos,
o empresário afirma que já recebeu turmas inteiras de outras
universidades, por conta da especialização tecnológica das graduações
que a Faculdade Impacta oferece.
Fusões no mercado
O mercado brasileiro de educação, como um todo, se mostrou aquecido
nos últimos anos. Em 2013, o setor ainda assistiu a fusão que resultou
na maior companhia de educação do mundo, a Kroton Educacional, estimada
em R$ 12 bilhões e com ações listadas na BM&F Bovespa. Ainda no
panorama geral de ensino, apenas de 10% a 12% da população brasileira
tem hoje formação em nível superior. Em áreas específicas como TI, a
participação no mercado de ensino é ainda menor, contudo isso deve
mudar.
O professor de Sistemas da Informação na Universidade Anhanguera,
José Ricardo de Oliveira, indica que dos cursos que a instituição
ministra, quase 20%, ou seja, um quinto do total de alunos da
instituição, já estão matriculados em área de TI - número considerado
alto. "O mercado solicita cada vez mais profissionais qualificados para
essa área e falta mão de obra para atender toda essa demanda, o que
explica a procura de cursos como esse, que deve se manter alta", indica.
Nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), a área de tecnologia é um
pouco diferente. "Os alunos que procuram esses cursos são também
pessoas que estão no mercado de trabalho, alunos mais velhos ou que
precisam de uma graduação mais rápida, efetiva e que os entregue
especializados para o mercado de trabalho", como afirma o coordenador
dos cursos de graduação tecnológica em marketing, comércio exterior e
logística da FMU, Arnaldo Vieira da Silva. Ele diz que o número de
matrículas vem crescendo nesses cursos, que têm em comum a formação
concretizada em prazo considerado curto, de até dois anos e meio.
Não são apenas as instituições de ensino que têm ganhado mercado com
união dos setores de tecnologia e educação. Empresas de outras áreas têm
visto um nicho com produtos como os da canadense Smart Tech, fabricante
de lousas interativas, displays digitais e software dedicados à
educação. Os produtos da empresa liderada no Brasil por Nelson Mariano
(ex-Motorola) indicam que uma nova forma de educação pode ser aplicada
nas salas de aula, de forma colaborativa. A empresa desenvolve o
software Smart Notebook com ferramentas interativas que englobam textos e
conteúdo multimídia nas lousas, além de disponibilizar o Smart Amp,
plataforma de conteúdo na nuvem, que pode ser utilizada como biblioteca
ou aplicação para transmissão de aulas remotas.
Mudanças como as observadas nos métodos de ensino são necessárias
porque o próprio termo tecnologia vem mudando de configuração ao longo
do tempo. É o que diz a coordenadora pedagógica nacional de tecnologias
da Universidade Estácio, Simone Markenson. "Não se pensa mais em um PC
em cima da mesa, já pensamos em smartphone, e até em internet das
coisas. É razoável que os cursos precisem ser atualizados numa
frequência maior e estar prontos para atender demandas que ainda nem
existem."
Nova postura
A procura por cursos específicos de tecnologia da informação deixou
de ser apenas por alunos que querem se alfabetizar em linguagens de
sistemas e softwares. O nicho conta agora com pessoas com espírito
empreendedor. É o que afirma a vice-presidente da Associação Nacional
das Universidades Particulares (Anup), Elizabeth Guedes. Ela indica que
as universidades privadas esperam procura por cursos do gênero
tecnológico não só crescente, mas cada vez mais sofisticada. No futuro, o
analfabeto digital será quem não souber programar apps. "O setor de TI
envolve a plataforma através da qual você desenvolve o seu produto. O
aluno brasileiro antes fazia faculdade para arrumar um emprego. Hoje,
ele faz isso para procurar a sua praia, fazer o seu futuro e achar sua
própria empreitada", diz.